segunda-feira, 22 de março de 2010

DEUS É INJUSTO?

"Há injustiça da parte de Deus?" Rm 9:14

Muitos tem dificuldades em aceitar algumas afirmações da Bíblia, pois entendem que se forem tomadas em seu sentido natural fazem de Deus injusto. As que tratam da eleição soberana são as que mais trazem dificuldades aos cristãos sinceros, preocupados em resguardar o Senhor da acusação de ser injusto.

A pergunta acima bem poderia ter sido feita por um desses crentes. Paulo citou as palavras de Deus: "Amei Jacó, porém me aborreci de Esaú" (Rm 9:13). O senso comum é que Deus ama a todos os homens de igual maneira, portanto Ele afirmar que amava uma pessoa e se aborrecia de outra deporia contra a retidão de Seu caráter.

Quem conhece a história dos dois personagens sabe que, pela régua humana, se Jacó não fosse muito pior que Esaú, com certeza não seria o melhor dos dois. Desde o seu nascimento, passando pelo episódio da venda da primogenitura e chegando ao roubo da bênção paterna, Jacó era o típico aproveitador desonesto. Como poderia Deus amá-lo enquanto preteria seu irmão Esaú? Para piorar, há o momento em que essa escolha se deu. Paulo diz que "ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal" (Rm 9:11) e Deus já manifestara à mãe dos garotos que "o mais velho será servo do mais moço" (Rm 9:12). Portanto, Paulo sabia que ouviria a acusação de injustiça contra Deus. Mas sua resposta é um enfático "de modo nenhum!" (Rm 9:14).

Como pode ser isso, se Deus amou a Jacó e odiou (este é o sentido exato da palavra no original) Esaú? A palavra chave para resolver o problema é misericórdia, que garantiu que "o propósito de Deus, quanto à eleição, prevalecesse, não por obras, mas por aquele que chama" (Rm 9:11). Deus diz "terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão" (Rm 9:15).

Para dissipar qualquer nuvem que paire sobre o caráter de Deus, é preciso entender o que é justiça e o que é misericórdia. Justiça é dar a cada um o que é devido e como ninguém merecia a salvação, se Deus condenasse a todos, não seria nem um pouco injusto. Por outro lado, graça e misericórdia é dar a alguém aquilo que ele não merece. Como ninguém tem direito à misericórdia, não pode acusar Deus de injustiça. Por ser a eleição graciosa, os eleitos não tem do que se vangloriar, pois não mereceram a graça, nem os que foram preteridos podem reclamar, pois não tiveram direitos violados.

Portanto, Deus é misericordioso com muitos sendo justo com todos.

sábado, 6 de março de 2010

Amilenismo

A palavra amilenismo significa literalmente “nenhum milênio.” Estritamente falando, não é o caso do amilenismo não ensinar nenhum milênio de forma alguma. A verdade é que o amilenismo não crê num milênio literal e futuro.

O amilenismo ensina que o milênio de Apocalipse 20 é toda a era do Novo Testamento, desde a primeira vinda de Cristo até o fim do mundo. Portanto, os mil anos de Apocalipse 20 devem ser entendidos simbolicamente, e não literalmente.

Este ensino é baseado, primeiro, no fato que os números na Escritura, incluindo o número mil, são frequentemente simbólicos ao invés de literais. Um bom exemplo é o Salmo 50:10, onde a Escritura certamente não quer dizer literalmente e somente “mil montanhas,” mas todas as montanhas.

Visto que a prisão de Satanás é uma das principais características deste período de mil anos (Apocalipse 20:1-3), o amilenismo ensina que Satanás está preso por toda a era do Novo Testamento. Ele não está completamente preso, mas preso somente “para que mais não engane as nações” (Apocalipse 20:3, ARC). Ele está preso, em outras palavras, para que não possa impedir o evangelho de ser pregado e resultar na conversão das nações gentílicas.

Que Satanás estava preso no tempo da primeira vinda de Cristo é claro a partir de Mateus 12:29. Ali, numa referência óbvia à Satanás, Jesus usa a mesma palavra grega para amarrar que aparece em Apocalipse 20:2. Ele diz aos fariseus que “o homem valente [Satanás]” deve ser amarrado. No contexto desta declaração, Jesus está falando da vinda do reino através da reunião dos gentios, mediante a pregação do evangelho (Mateus 12:14-21, 28-30). Mateus 12:29 interpreta Apocalipse 20:2 e mostra que o resultado da prisão de Satanás é o sucesso do evangelho entre as nações no Novo Testamento.

O amilenismo, portanto, não espera um milênio ainda porvir, mas crê que estamos no meio do milênio agora, e que, quando o milênio terminar, o fim do mundo terá chegado. Esta era do Novo Testamento é a última era do mundo.

Os amilenistas não esperam um rapto mil anos antes do fim, nem uma vinda de Cristo mil anos antes do fim, nem esperam que a grande tribulação ocorra mil anos antes do fim do mundo. Antes, eles ensinam que todos estes eventos ocorrerão no fim e serão seguidos pelo estado eterno.

Por isso, o amilenismo ensina que a “trombeta” de 1Coríntios 15:51,52 é a última, e que seguindo o rapto (1Tessalonicenses 4:16,17), os eleitos estarão para sempre com o Senhor na glória celestial. Da mesma forma, no ensino amilenista a grande tribulação de Mateus 24:29 é imediatamente seguida pela trombeta que anuncia a vinda de Cristo na aparição real de Cristo sobre as nuvens e a assembléia dos seus eleitos.

O amilenismo não ensina um período de paz e prosperidade sem precedentes para a igreja antes do fim, mas toma seriamente a verdade bíblica de que a grande tribulação da igreja precederá o final de todas as coisas – que naqueles últimos dias “sobrevirão tempos difíceis” (2Timóteo 3:1), tempos nos quais “os homens perversos e impostores irão de mal a pior” (v. 13).

Por causa disto, alguns acusam o amilenismo de pessimismo. Contudo, ele não é pessimista. Os amilenistas crêem que Cristo reina, e que com poder soberano faz com que todas as coisas, mesmo as tristes, cooperem juntamente para o bem dos seus amados.

Fonte (original): Doctrine according to Godliness, Ronald Hanko, Reformed Free Publishing Association, p. 305-306.

Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto / felipe@monergismo.com